Gestação em tempos de coronavírus – Entrevista com a presidente da Socego, Dra. Liduína Rocha ao CETV 1ª edição.
Diante do crescente aumento de casos do Covid-19 no Estado do Ceará e na busca por orientações médicas, a presidente da Socego, Dra. Liduína Rocha, foi convidada, nesta segunda-feira (31) de março, para conceder uma entrevista sobre a gestação em tempos de coronavírus ao telejornal local CETV 1ª edição, do Sistema Verdes Mares. Na pauta, foram esclarecidas as dúvidas das gestantes em relação ao Covid-19.
Confira a seguir as perguntas e respostas da entrevista.
CETV 1ª edição: É bem preocupante de terem o Covid-19 ou as gestantes não fazem parte dos grupos de risco?
Dra. Liduína Rocha: A gente que agradece a oportunidade desse diálogo e a chance de tentar tranquilizar um pouco a esse respeito desse assunto. As gestantes não compõem um grupo de riscos e nem parecem ter desfechos mais complicados que a população em geral. A gente divide as gestantes de uma forma geral, àquelas que tem risco habitual, ou seja, que não tem nenhuma doença, nenhuma condição que aumente o risco da gravidez e a gravidez para esse grupo transcorre como um ciclo fisiológico de vida. E uma parte pequena das gestantes, em torno de 15% delas, a gente classifica como de alto risco, que são normalmente aquelas que tem alguma doença prévia, ou que tem alguma doença complicando a gestação, em especial a hipertensão. Então esse grupo de gestantes de alto risco, sim, é o grupo que mundialmente a gente tem que ter um olhar mais criterioso e uma conduta individualizada. Mas de uma forma geral, em mais ou menos 85% das gestações, a gente vai ter um transcurso normal e elas têm um risco inclusive um pouco diminuído em relação a população geral. Tem um estudo da OMS, que é um estudo pequeno como todos os estudos referente ao novo coronavírus, em torno de 150 gestantes apenas 8% delas precisaram de internação hospitalar, na população esse dado é um pouco maior, e só 1% delas complicaram, e essas que complicaram, precisando de UTI são exatamente as que tem alguma doença prévia ou que tem alguma doença que se desenvolveu na gravidez, ou seja, de uma forma geral as gestantes não estão expostas a mais riscos.
CETV 1ª edição: O novo coranavírus pode ser transmitido para o bebê seja pelo cordão umbilical ou durante a amamentação?
Dra. Liduína Rocha: São duas questões diferentes, em relação a transmissão vertical que é aquela que acontece da mãe para o feto durante a gravidez, todos estudos iniciais apontam que não, quando se pesquisou o vírus em líquido amniótico, em placenta até o momento todas as respostas foram negativas. Existem alguns relatos de casos publicados nesta última semana, da presença de IgM que é uma hemoglobina que não passa placenta, portanto se ela está presente no bebê, é porque não foi da mãe é dele próprio. Mas até agora, nesse momento, o que as publicações internacionais mostram é que não há transmissão vertical, parece não haver transmissão durante a gravidez. E isso torna ainda muito mais importante o isolamento social das gestantes neste período e a organização da assistência pré-natal tentando evitar o máximo de exposição possível. E em relação aos recém-nascidos, o leite também não houve nenhuma documentação de que o leite tivesse presença do vírus. Mas o manuseio o contato da amamentação das mulheres com síndrome gripal deve ser muito cuidadoso, no sentido de higienização das mãos, no sentido de uso de máscara, se espirrar, se você está gripada e estar amamentando, está de máscara, espirrou, tossir tem que trocar a máscara, ou seja, tem que ser uma amamentação com suporte de outras pessoas para evitar que a mãe manuseie a máscara na hora que ela espirra. Mas a amamentação é recomendada por todas as entidades que pesquisam e que publicam sobre Covid-19 e gestação.
CETV 1ª edição: Mesmo que a mãe esteja com o coronavírus ela pode amamentar, o importante é fazer a higienização das mãos e usar máscara?
Dra. Liduína Rocha: Isso, mesmo que ela tenha síndrome gripal, uma boa parte das mulheres, a população geral, mas as gestantes também, elas não estão sendo testadas nesse momento em que nós temos racionalizar os nossos exames, então qualquer mulher no puerpério que esteja com síndrome gripal, ou seja, esteja tossindo, esteja com febre, esteja com produção de coriza ou conjuntivite, ela deve tomar cuidados redobrados em relação a amamentação. Mas a recomendação até o momento é que a amamentação seja realizada, inclusive porque ela protege de outras condições nesse momento.
CETV 1ª edição: A orientação a todos é ficar em casa, inclusive, nós devemos evitar os hospitais e ir apenas em casos extremos. Como as grávidas devem se comportar em relação as consultas médicas?
Dra. Liduína Rocha: Em relação a ida aos hospitais, a recomendação para gestantes é que se procure maternidade para assistência obstétrica. Quem deve procurar o hospital é quem tem sinais e sintomas de síndrome gripal grave, febre persistente, desconforto respiratório associado a essa febre, queda do estado geral significativa, confusão mental, arroxeamento de boca, de mão, que a gente chama cianose. Essas pessoas devem procurar o hospital. Neste momento, de transmissão sustentada, as pessoas que têm síndrome gripal leve elas devem ficar em casa. Quanto menos de nós adoecermos ao mesmo tempo, mas efetiva vai ser a nossa assistência para quem de fato precisa. Então nesse momento é otimizar recursos e ter um uso racional do que a gente dispõe. As maternidades elas devem ser destinadas a assistência obstétrica, então qual é a mulher que deve procurar as maternidades, é aquela que vai precisar de algum suporte de obstetrícia, que está sangrando, que está abortando, que está em trabalho de parto. As demais gestantes, elas devem procurar os pontos de referência de assistência a população, se não houver a necessidade de uma conduta obstétrica.
CETV 1ª edição: Há algum aumento de interesse de partos em casa?
Dra. Liduína Rocha: Essa discussão ela começa a acontecer no mundo todo, aqui no Brasil a gente não tem um modelo de assistência obstétrica que prevê o parto domiciliar. Então a gente tem feito muito pouco essa discussão, especialmente, quando a gente leva em consideração que uma mulher com síndrome aguda respiratória grave, ela precisa de uma série de arsenais que são as que vão precisar de fato a ir para hospital, nesse contexto é importante que elas estejam no hospital, que tenha todo o suporte. Mas essa é uma discussão que o mundo todo está fazendo.
CETV 1ª edição: Nós estamos em um período de campanha de vacinas em prevenção a gripe, a vacina não previne o Covid-19, mas ainda assim a gestante deve se vacinar?
Dra. Liduína Rocha: Sim, com certeza, a gente está entrando agora no Nordeste e aqui no Ceará, em uma fase epidêmica de influenza e H1N1, ou seja, uma parte das pessoas que apresentem sintomas gripal, vão ter esses sintomas pelo H1N1 e pela influenza que também podem complicar, a vacina ela faz parte da nossa proteção, as gestantes e os idosos, em particular, devem ser vacinados e o ideal é evitar aglomerações.
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