Cruzada contra o HPV
Está em teste em vários países uma vacina contra o vírus que pode causar câncer do colo de útero. coordenador do trabalho no Brasil, Paulo Nau falou à CRIATIVA
O HPV, sigla pela qual é conhecido o papilomavírus humano, já infectou pelo menos 12% da população mundial. E ele costuma ser silencioso. Apenas algumas vezes o vírus se manifesta como uma verruga esbranquiçada na vagina ou no pênis. Em geral, o problema não dá sinal algum e somente com exames é possível saber que se está infectado. A questão é que nos homens o HPV não causa grandes estragos – e muitos nem sabem que têm. Mas nas mulheres pode levar ao câncer de colo de útero. A nova (e talvez definitiva) arma contra o vírus é uma vacina que pode beneficiar cerca de 42 milhões de brasileiras. A boa nova foi o principal tema do Eurogin, congresso de ginecologia que reuniu profissionais de todo o mundo em junho, em Porto Alegre (RS). Ali, foram apresentados os últimos resultados dos testes dessa vacina, feitos no Brasil, nos Estados Unidos e em países da Europa e da Ásia, numa força-tarefa que envolve 18 mil voluntárias. Por aqui, quem coordena o trabalho é o médico Paulo Naud, professor de ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenador de estudo para controle do câncer do colo do útero. Em Porto Alegre, Naud falou à CRIATIVA.
Até a vacina chegar: ‘Hoje, a única prevenção é o preservativo, que tem que ser usado, mas não é 100% eficiente contra oHPV’, diz Naud
Por que é tão fundamental ter uma vacina contra o vírus HPV?
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer, dez a 12 mulheres morrem por dia de câncer do colo do útero e 75% dos casos são causados por dois tipos de HPV, o 16 e o 18, alguns dos mais agressivos entre os cem tipos existentes. A vacina ensina o sistema imunológico a reconhecer e se defender dessas duas variações. Acreditamos que, só no Brasil, cerca de 42 milhões de mulheres poderão ser vacinadas, o que vai significar um grande bloqueio ao desenvolvimento do câncer do colo de útero no país. Hoje, a prevenção é o uso do preservativo, que tem que ser usado, mas não é 100% eficiente contra o HPV.
Por que o preservativo não é totalmente eficiente nesse caso?
O preservativo é, por enquanto, o mais eficiente método de proteção contra o HPV. Mas, de fato, não oferece proteção total, como acontece com o vírus HIV. Isso porque a pessoa pode se contaminar pelo simples contato com a mucosa durante as preliminares. No caso do HIV, a principal concentração de vírus está no sêmen e no sangue. O HPV fica na superfície, na mucosa. E é possível encontrar o vírus até em áreas distantes da lesão, quando há alguma.
Todas as mulheres serão vacinadas?
Num primeiro momento apenas as adolescentes que ainda não iniciaram a vida sexual. Porque isso irá impedir que se infectem quando tiverem suas primeiras experiências sexuais. A vacina que estamos testando e será produzida pelo laboratório Glaxo Smith- Kline já demonstrou eficiência de até 100% para impedir a infecção pelo HPV.
Mas a vacina vai servir também para as mulheres que já têm o vírus?
Sim, se a mulher tiver o vírus, mas não tiver lesões que levam ao câncer. Vale lembrar que cerca de 60% das infectadas eliminam o vírus naturalmente.
E os homens, que afinal transmitem o vírus para as mulheres, não serão vacinados?
Até se pensa em vacinar homens, mas não num primeiro momento. Existem dados científicos que mostram que neles a vacina não será muito eficiente.
Quando a vacina deve ser lançada comercialmente?
Estamos na fase três, que é a última que antecede ao lançamento. Agora, a vacina está sendo testada em mulheres entre 15 e 25 anos que têm o vírus, e também em quem não tem, para validar a sua eficiência. É necessário um tempo de observação. Deve chegar ao mercado em, no máximo, quatro anos.
Toda mulher precisa saber
Principal forma de transmissão: o HPV é transmitido na relação sexual. O vírus contamina a célula e se integra ao DNA. Então, a célula defeituosa começa a se multiplicar rapidamente
Como evitar: hoje a prevenção é usar preservativo sempre – mesmo nas preliminares, se elas envolverem “ensaios” de penetração.
Como detectar: como é comum o vírus não dar sinais de sua presença, a única maneira de descobrir que se tem o HPV é com avaliação ginecológica e/ou um papanicolau (que analisa as células do colo do útero). O problema é que nem toda mulher tem acesso a esses exames.
Texto: Ana Holanda